Amor pela obra missionária

Padre Inácio José do Vale, OSBM

“Jesus disse-lhes: Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura. Eles saíram a pregar por toda parte, agindo com eles o Senhor, e confirmando a Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,15.20).

 

Nosso Senhor Jesus Cristo nos conclama a trabalharmos ativa e zelosamente para Ele (Hb 6,10-12), e, nós, cristãos, devemos atendê-lo prontamente. Sim, nós temos sobre nossos ombros o “amor de Cristo” (2Cor 5,14), que nos impele a darmos o melhor de nós para a causa do Senhor e a trabalharmos muito mais que um multimilionário  que tenta ampliar seus lucros. Entretanto, muitos cristãos nem pensam em trabalhar para o Senhor. A messe é grande, mas os operários continuam poucos. Porque isso acontece? Onde esta o problema?

O verdadeiro cristão é movido e fortalecido pelo amor de Deus, que é o que nos leva a trabalharmos para o Senhor Jesus. Se não estamos trabalhando para Ele, é porque não O estamos amando como deveríamos e nem reconhecemos como o nosso único Salvador das nossas almas. É certo que trabalhar para o Senhor não é uma tarefa fácil, pois há sempre dificuldades, perseguições, e inimigos, que nos fazem reagir com ódio e vontade de revidar. Entretanto, o Senhor, ainda com mais vigor, nos ordena não só a amarmos os nossos inimigos, mas também a dar a outra face, quando agredidos em uma delas; a entregarmos nossa camisa, quando despojamos da nossa capa; a andarmos o dobro do que formos obrigados a andar (Mt 5,39-41). Nenhum inimigo vai conseguir parar a obra de Deus, mas a nossa recusa em aceitarmos a graça de amar os nossos inimigos certamente pode comprometê-la. Assim, se há poucos operários na obra de Deus, é porque poucos cristãos estão amando a Deus como se deve e estão, menos ainda, amando seus inimigos.

O Patriarca dos monges do Ocidente São Bento disse: “Ora e trabalha”. Deus disse: “Ama e trabalha”. Portanto, nós devemos amar especialmente os nossos inimigos, e orarmos e trabalharmos, incessantemente, pela salvação deles. Isso é parte importante do projeto de Deus. Só os que têm amor verdadeiro a Deus é que ajudam a realizar a grandiosa obra missionária.

 

                            INVESTIR EM MISSÕES

 

“José, a quem os apóstolos haviam dado o cognome de Barnabé, que quer dizer “filho da consolação”, era um levita originário de Chipre. Sendo proprietário de um campo, vendeu-o e trouxe o dinheiro, depositando-o aos pés dos apóstolos. Pelas mãos dos apóstolos faziam-se numerosos sinais e prodígios no meio do povo. Mais e mais aderiam ao Senhor, pela fé, multidões de homens e de mulheres” (At 4, 36.37; 5,12.14).

 

Você possui investimentos financeiros, tais como ações, poupança, ou letras de câmbio? Você investe em imóveis? Pois Jesus Cristo dá um alerta para todos nós: “Não ajunteis para vós, tesouros na terra” (Mt 6,19). Se você tem dinheiro, casas, roupas, sapatos, comida, ou bens materiais diversos, em excesso, pare um pouco e reflita se você não esta fazendo justamente isso: juntando tesouros na terra!

Se você estiver agindo assim, ou seja, ajuntando bens que, aparentemente, lhe dão segurança, está na hora de mudar de atitude e começar a transferir os seus tesouros, da terra para o céu (Mt 6,20). Isso é possível se você se arrepender mudar seu coração, e distribuir todos os seus bens, supérfluos ou não, para o Reino de Deus. Na verdade, tudo o que você, eu e todos nós temos, nos foi dado por Deus: portanto, tudo já pertence a Ele. O Senhor não quer nada para Si: tudo o que Ele deseja é que administremos bem o que ele colocou em nossas mãos. O Senhor não nos quer que fiquemos com nada, somente para nós – o que igualaria ao servo medroso e egoísta – que recebeu uma moeda de seu patrão, e nada fez com ela, recebendo, por isso, severa punição (Mt 25,14-30; Lc 19,11-28). Os bens que temos, e que nos foi dado pelo Senhor, tem que ser bem administrados, mas segundo os Seus padrões, e não segundo os nossos. Para Ele, um servo bom e fiel é aquele que da o máximo de si, e usa tudo o que tem, de acordo com a Sua vontade. A consciência pela obra missionária é fazer ela acontecer com tudo o que temos. O maior investimento que podemos fazer sempre será em prol das missões.

Deus provê tudo o que é necessário para nós, e Ele o faz na base do “pão de cada dia” (Mt 6,11). Nós, seus humildes servos, devemos operar nessa mesma base. Deus provê o pão e nós missões.

 

Vejamos um estupendo exemplo de investimento em missões pelo caridoso milionário: Charles Thomas Studd. O inglês Charles Studd era considerado um dos maiores desportistas do final do século XIX. Milionário, ele herdou da família a importância de 29 mil libras esterlinas, uma fortuna naquela época, mas se recusou a tirar proveito dela, temendo que o dinheiro pudesse atrapalhar seus nobres ideais. Determinado a investir na obra de Deus, enviou cinco mil libras esterlinas para o missionário James Hudson Taylor, que se tornou uma lenda ao ser o primeiro a levar a palavra de Deus ao interior da China; outras cinco mil libras para o Rev. Willam Booth, fundador do Exército de Salvação em Londres-Inglaterra. Cinco mil para o evangelista Dwight L. Moddy, para que este iniciasse o estabelecimento do Instituto Bíblico Moody em Chicago-EUA.

Studd doou ainda outras importâncias, sobrando-lhe apenas 3.400 libras, as quais ele, no dia do seu casamento, deu á esposa. Esta também doou o presente e comentou, na época: “Jesus pediu ao jovem rico que desse tudo aos pobres”. E Studd completou: “Agora nos achamos na situação que não possuímos nem prata nem ouro”, referindo-se ao texto de Atos 3.6. Loucura? Não. Charles Studd tinha certeza de que o Nosso Senhor Jesus Cristo era o dono de todas as coisas. Essa demonstração de entrega total foi apenas o começo. Todavia, foi o suficiente para que o Senhor lhe desse um novo rumo. Mais tarde, ele o chamaria para obra missionária.

Studd viajou a china, onde trabalhou como missionário. Posteriormente, foi para a Índia, para o Sudão e para o Congo. Seu pensamento era: “Se Jesus é Deus e Ele morreu por mim, então nenhum sacrifício pode ser muito grande para nós”. Como resultado de seus esforços, foi fundada, um pouco antes de sua morte, a Cruzada de Evangelização Mundial, que hoje conta com mais de mil missionários em todo o mundo. A mensagem deixada por Charles Studd foi simples: enquanto a maioria investe em bens materiais, outros investem no Reino de Deus.

 

POR QUE É MAIS FACIL?

 

Por que é mais fácil falar e mandar do que fazer?

Por que é mais fácil ficar em casa do que ir às missas?

Por que é mais fácil ler o jornal do que ler a Sagrada Escritura?

Por que é mais fácil ir a shows do que ir às vigílias de oração?

Por que é mais fácil cochilar do que ouvir a homilia?

Por que é mais fácil ir a um banquete do que jejuar?

Por que é mais fácil desobedecer do que ser fiel?

Por que é mais fácil pecar do que santificar?

Por que é mais fácil amar a si mesmo do que ao próximo?

Por que é mais fácil crer em médicos e remédios do que em milagres?

Por que é mais fácil mentir do que falar a verdade?

Por que é mais fácil semear a contenda entre irmãos do que cultivar a comunhão?

Por que é mais fácil ir ao McDonald do que dar esmolas?

Por que é mais fácil irritar-se do que ser manso?

Porque é mais fácil criticar do que elogiar?

Por que é mais fácil murmurar do que cantar um hino?

Por que é mais fácil surrar os filhos do que sentar, conversar, aconselhar?

Por que é mais fácil autoconsagrar-se do que servir humildemente a igreja local?

Por que é mais fácil reformar gabinetes pastorais do que uma nova sala de assistência social?

Por que é mais fácil auto intitular-se apóstolo e patriarca do que servo e cooperador?

Por que é mais fácil construir igrejas nas metrópoles do que nos campos?

Por que é mais fácil sentar no altar do que ficar recepcionando na porta?

Por que é mais fácil concorrer numa eleição para presidir uma organização do que ir ao campo missionário?

Por que é mais fácil gastar com supérfluos do que ofertar para missões?

Por que é mais fácil construir templos luxuosos do que enviar missionários?

Por que é mais fácil falar de pessoas famosas do que dos nossos heroicos missionários?

Por que é mais fácil comprar objetos de personalidades do que obras dos missionários?

Por que é mais fácil educar os filhos para serem doutores do que serem missionários?

 

                                CONCLUSÃO

 

A principal missão da Igreja e dos cristãos é missões. Todo o batizado recebeu de Cristo essa nobre missão. A tarefa mais sublime na face da terra é falar do amor de Deus. Esta é a mensagem mais poderosa que existe para a libertação do gênero humano.

Todo poder foi dado a Cristo (Mt 28.18). Sem Ele nada podemos fazer (Jo 15,5). Em seu nome pregamos o arrependimento para remissão dos pecados a todas as nações (Lc 24,47). Não há debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos (At 4,12). Ficam claro, que Jesus Cristo é o amor e a Palavra de Deus para salvação da humanidade.

Somos discípulos e missionários de Jesus de Nazaré para anunciar a Boa Nova de paz e de Justiça ao mundo inteiro. “Jesus Cristo, o grande missionário do Pai, envia, pela força do Espirito Santo, seus discípulos em constante atitude de missão (Mc 16,15). Quem se apaixona por Jesus Cristo deve igualmente transbordar Jesus Cristo, no testemunho e no anuncio explicito de sua Pessoa e Mensagem” (*).

Vamos proclamar a mensagem de fé, de graça e de esperança ao mundo que padece por falta da verdade Redentora de Jesus Cristo! Fazendo com atos concretos, expressando assim o amor pela obra missionária.

 

 

Pe. Inácio José do Vale

Professor de Historia da Igreja

Pregador de Retiros Espirituais

Especialista em Ciência Social da Religião

E-mail: pe.inaciojose.osbm@hotmail.com

 

 

(*) Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2011 – 2015), nº 30.

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